quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Tédio

Sabe aqueles dias em que horas dizem nada? E você nem troca o pijama, preferia estar na cama. Um dia a monotonia tomou conta de mim. É o tédio.

Tô sofrendo do pior dos tédios: Tédio mental.

Tenho muitas ideais, coisas que estão fervilhando na minha cabeça, mas que nunca vão para o papel. Ou para a tela.

Não é que sejam idéias ruins, pelo contrário, há algumas que julgo muito boas. A dificuldade é vencer a inércia e deixar a idéia ganhar vida.

Também há momentos em que olho a idéia nos olhos, sinto seu cheiro, seu gosto. Às vezes chego a me apaixonar, mas então me pergunto: “Será que há algo que se possa dizer: veja! Isso é novo! Não tudo já existia e vai continuar existindo depois de mim.” Nesses momentos recolho-me a minha pequena insignificância.

Eu não gosto de ser importunado por idéias estrangeiras. Então por que forçar minhas idéias aos outros?

As idéias estão no chão, você tropeça e acha a solução.

Às vezes sinto que não há mais espaço no mundo para viver como amador. Tudo hoje em dia é profissional, custa caro e logo sai de moda.

É verdade, eu gostaria de escrever. Mas e depois? Eu teria que me corromper e ceder ao mercado para vender livros. Toda editora que o novo Best Seller. Não importa se Harry Potter é bom ou ruim. Ele vende. E muito. Paulo Coelho é imortal. Nunca li nada dele para criticar. Na verdade tentei ler Brida. A verdade é que ele é imortal porque vende muito. Vende muito porque é bom ou por que tem boa propaganda?

A cada dia são inventadas novas necessidades. As pessoas estão sempre em busca de algo. E há pessoas inventando esses algos para que os outros corram atrás.

Vaidade de Vaidade. Tudo é Vaidade.

É tudo tão antigo quanto a humanidade, mas ainda me incomodo com isso. Ainda bem.

3 Comments:

At 3:26 PM, Anonymous Anônimo said...

Cumpádi, meu cumpádi,

"Às vezes sinto que não há mais espaço no mundo para viver como amador. Tudo hoje em dia é profissional, custa caro e logo sai de moda."

Verdade. Realmente verdade.
Entretanto, creio que produzir, ainda que seja uma necessidade psicológica nossa, é mais do que uma demanda do capital.
Nossa forma de expressão não deve estar aliada a pretextos mercadológicos, porque estes, simplesmente, como você mesmo disse, podem corromper nossos ideais. Devemos romper barreiras.
Tem uma (mais uma) historinha de Benjamin Franklin, que omiti da resenha, que acho que vale a nota para o presente comentário:
Observando experimentos com balões, ele fica fascinado com sua capacidade de ascensão. Vem um malandro (não dá pra chamar de outra coisa) e pergunta:
- Mas qual é a utilidade disso?
E a resposta é boa, vinda na defesa da pura pesquisa:
- Mas qual é a utilidade de um bebê recém nascido?

Como dizer? Dizer o quê?
Eu sou crente e todo mundo sabe disso.
Mas leio autores de todos os tipos e, via de regra, alguns deles são pessimistas ateus, dos quais eu discordo em grande parte (Sartre, Hemingway, Deleuze... só não tive coragem ainda de encarar Nietzche de jeito, porque ele chama o cristão de estúpido e, por trechos que li, o acho superestimado), mas dos quais eu sei, às vezes, "examinar tudo e reter o bem".
Não me julgo forte por isso. Mas vejo que existe humanidade a ser explorada nesses caras e alguma serventia para a minha vida em colocações bem pensadas. Ou, pelo menos, dou boas risadas e aprendo umas palavras diferentes. São homens que pensaram e isso, meu irmão, está ficando rarefeito nos ares de hoje.
Estou escrevendo isso, pelo fato de que, se você fosse perguntar a um desses caras por que é que a pena os atraía, receio que a resposta fosse algo como: gosto de escrever, precisa de mais o quê?
E existe uso nisso? Com certeza absoluta.
Bem, Alfred Wegener, um dos grandes homens da Geologia moderna, inventor da teoria da deriva continental, morreu desacreditado. Não por ele, pois investiu toda a sua vida na idéia, morrendo numa nevasca, enquanto fazia expedição a fim de mais dados.
Hoje, sua teoria serve de base para a identificação de um sem número de fenômenos geológicos.

Acho que já deu pra entender...
Beijos mil, meu caro e, possivelmente, eu te vejo no café (coisa rara) nesta quinta.

 
At 3:18 PM, Blogger Bianca said...

Isso dá uma longa discussão, toma conta das grades filosóficas da faculdade...

Bom, se ao menos você escrever primeiro, e só depois for corrompido, tudo bem. Sua arte, não terá sido subjulgada ao capital.

Expressar o que sentimos não é querer forçar aceitação dos outros, deve haver respeito em se tratando de arte. É como gosto. Não se discute!

Concordo com o que o André diz, e não vou me delongar nos argumentos.

Uma coisa que eu sempre me pergunto, que não tem resposta compreensível a não ser a maldição, é para quê serve a TPM. (???)
Talvez subjulgar a arte à massificação, tornando-a algo imposto ao artista e não expresso por ele como deve ser, seja também uma maldição para aprisionar nossa liberdade...

Bote pra fora tudo o que está preso na sua cabeça, ainda há quem aprecie espontaneidade e sinceridade. Eu, por exemplo, não suporto manipulação mal feita, se for pra manipular, manipulem direito. Não há nada pior do que forçação de barra, do que um escritor que não se envolve com o que escreve, ou do que a Jéssica e o Cauê apresentando um programa infantil...

Esqueça o que vão pensar, ou se de alguma forma já sentiram o que você está sentindo, ninguém ainda se expressou como você se expressaria! Esqueça mesmo aquele lance de "provar pra todo mundo que não precisa provar nada pra ninguém", pode ficar tão pobre quanto quem admite que só quer vender, pois se um é capacho, o outro é pedante!

É minha opinião.

Confio em você, gringo!
Escreve, aí.
Beijão

 
At 10:43 AM, Blogger Rafael Ruivo said...

Depois de ler os dois comentários acima ("aceitação", "arte", "corrupção a valores mercadológicos"...), vejo que de fato não há espaço para meus humildes e amadores comentários...

Mas, veja só, eles também não são profissionais, mas escrevem melhor do que eu. E, por sua vez, alguém escreve melhor do que eles, e alguém é melhor do que esse alguém, e paralelo a tudo isso, outro alguém que não é assim tão bom está vendendo livros, roteiros de cinema e TV e tudo mais feito doido...

Falando sério agora, e complementando um pouco do que já foi dito: apesar do mundo cada vez mais tecnológico e comercial, as grandes invenções, sacadas e obras primas vêm sempre de alguém simples e descompromissado, de um sniper da vida, do pessoal que pensa "fora da caixa". Pense só: Bill Gates começou nos fundos da faculdade dele, o Steve Jobs montou o Apple na garagem, os caras do Google começaram sua jornada de dominação mundial num servidor que ficava atrás de um armário, eu desenvolvi no meu quintal o (desculpem, CLASSIFIED!), e por aí vai...

Por mais que quem faça a (ainda dentro do exemplo) tecnologia hoje seja quem tem bala para um putz P&D, são jecas como você e eu que têm a isenção e o pensamento não-viciado para dar uma utilidade para aquilo, e usar para fins totalmente diversos do que foi originalmente pensado. Ou será que quem inventou o Laser (outro bom exemplo de "inventei um troço que um dia vai ser útil") conseguiu vizualizar o CD?

É maravilhoso isso: nossas mentes são livres, não temos o menor compromisso com prazos ou deadlines, podemos fazer aquilo que amamos com liberdade e calma.
Trazendo novamente para o contexto que interessa, eu creio sim que exista espaço para amadores no mundo. Claro que a gente pensa logo em fazer um best seller (ou, no meu caso, inventar a propulsão de dobra) como o ápice do que estamos fazendo, e como único objetivo válido. Mas, considerando que a vida é curta e que o nosso objetivo está na outra vida, o que importa no final é o combate, e não (só) a vitória.

Parafraseando Paulo (não o Coelho, mas o De Tarso): "lutei uma luta que valeu a pena, terminei minha jornada e mantive a fé"... o que vier é lucro, e suas idéias, boas ou ruins, não vão ficar melhores se ficarem longe do papel (ou dos pixels).

Um abraço, comandante dos exércitos negros!

AELIVS MAXIMVS DECIVS RVIVVS MERIDIVS I
Imperador da Ruivolândia
General dos exércitos amarelos
+ 22 (0xx83) 2266-1701
Meet the Ruivoland!

 

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